sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Capítulo 4

- Graciete.
A sua voz perde força ao pronunciar o seu nome, não tem coragem de dizer mais nada, sente-se fraco e vulnerável. Ela vai pensar que só se aproveitou dela nestes dias, mas nem ele sabia que se ia apaixonar só sabia que desde que a conheceu não podia ficar longe dela.

Ela pressente que ele não está bem, o seu nome foi pronunciado de tal forma estranha que sentiu uma corrente eléctrica por todo o seu corpo. Foi um sussurro triste e penoso que não queria sentir, que não queria encarar, mas algo atormenta Gonçalo e tem que saber.

- Sim.-responde e vira-se para encara-lo, agora arrepende-se de olhar para o seu rosto, o seu estômago aperta-se num nó, não consegue controlar os tremores do seu corpo "eu vou perde-lo, eu vou perde-lo não o posso perder, ele é tudo para mim".
Graciete sabia que gostava de Gonçalo, mas agora que sabe que estava prestes a perde-lo, não suporta. Encara-o nos olhos e é engolida num turbilhão de sensações e chora, as lágrimas caem sem as conseguir controlar, não se importa, está a sofrer como ele sofre por a deixar e agora sabe que sentem o mesmo um pelo outro.

- Graciete, porque choras?
- Está tudo bem, só quero que saibas que independentemente do que estiver para acontecer eu nunca te vou esquecer. Fazes parte de mim, parece loucura, a verdade é que estou apaixonada por ti, Gonçalo.

Sente as poderosas mãos de Gonçalo a agarrar os seus braços e é puxada novamente para o seu peito. Ele a beija como se fosse a última vez. Graciete não nega este desejo e deixa que a língua dele toque na sua. O beijo é tão forte, tão intenso, repleto de uma paixão fogosa e doentia misturada com tristeza, mágoa e sobretudo de perda. Mas tudo é abafado pelo movimento das suas bocas. Ambos sentem o mesmo e não querem ficar por um beijo, as suas mentes e os seus corpos necessitam de muito mais, necessitam de despertar a paixão que existe neles.

Saem do barco e brincam como dois adolescentes, o céu fica cinzento, mas nem isso os afecta. Contam piadas, relembram episódios passados, falam das maiores vergonhas que passaram, vão ao “Macdonalds” e brincam com os bonecos que saem no “Happy Meal”, mas sobretudo o riso está sempre presente. Com toda a brincadeira quando vêm as horas, falta pouco para as sete. Graciete convida Gonçalo para jantar em casa. No caminho, passam por um supermercado e Graciete faz umas compras de última hora.

“Mmmhhh morangos e kiwi’s combinados são perfeitos” pensa Graciete. Mais à frente passa por uma prateleira sem prestar muita atenção, mas volta para trás novamente. “Chantilly, perfeito!” sorri com o seu pensamento.

- Isso é para a sobremesa? -ele aponta para a fruta e para o chantilly.
- Não gostas? Desculpa devia ter perguntado, eu…
- Eu adoro essa combinação! -ele sorri.

Em casa de Graciete não existe perguntas, não existe explicações, não existe despedidas, existe apenas o momento que começa a ser desfrutado.
Ao longo do jantar a conversa continua com temas que os fazem rir ainda mais.
- Vamos para a sobremesa?
- Desde o inicio do jantar que estou ansioso pela sobremesa.
- Guloso.
- Tu também.

Fixam o olhar ainda sorrindo e sem mais palavras não adiam o inevitável, aproximam-se e beijam-se. Um calor sobre os dois apodera-se, tocam-se suavemente descobrindo num passeio anatómico os contornos do corpo, conhecem-se lentamente, sem pressas.
Aos beijos deixam a cozinha e dirigem-se para o quarto. Peças de roupa caem pelo chão aumentando a intensidade do momento. O desejo de ser um só, a vontade de não se separarem torna aquele ambiente harmonioso.
Graciete empurra Gonçalo para cima da cama, e mostra-se na sua total pureza. Deitado, ele repara uma vez mais na beleza dela. Ela coloca-se por cima dele, a sensibilidade fica patente, beija-o docemente, passa as mãos fogosamente pelo seu peito e sente a sua forma escultórica, enquanto Gonçalo com as suas mãos suaves sente a sua pele delicada, tal como a seda.
Ele tapa os olhos dela.
- Confias em mim?
- Sim, mas…
- Então não destapes, por favor confia em mim. Volto já.
Minutos depois ouve os passos de Gonçalo, ele senta-se a seu lado, mas não a toca em vez disso ouve um barulho rouco, para depois sentir algo frio e cremoso no seu pescoço a descer pelos seus seios, prolongando-se até ao seu umbigo e termina na parte mais sensível do seu corpo, sente um arrepio. Não tem reacção, só desfruta o momento querendo saber o que vem a seguir.
Graciete não consegue responder a sua boca é preenchida por algo duro e suculento que vai e vem sem ela poder controlar. Sorri, não perde mais tempo, assim que a sua boca é preenchida novamente trinca, trinca com tal intensidade que o sumo do morango escorre pelos cantos da sua boca.
Sente o cheiro da sobremesa espalhada no seu tronco até ao início das pernas. Ela é a sobremesa.
Gonçalo beija-a no pescoço e trinca a sua pele ao mesmo tempo que mastiga a fruta lentamente. A sua língua fica mais agitada enquanto percorre o ponto de prazer de Graciete. Ela quer mais, e ele sabe do prazer que ela está a ter, mas mesmo assim ele continua a massacrá-la.
Graciete não aguenta mais, atinge o seu limite, revira o olhar e entrega-se ao que sente deixando-a fora de si.
Tira a venda, olha-o com satisfação, pega na taça dos morangos e kiwi's, retira uns tantos e esmága-os no peito dele. Tudo se desfaz em sumo, pega na lata do chantilly e de igual modo faz o mesmo processo.
Coloca um morango na sua boca e eleva até à dele. Ele com os seus lábios prende-o na sua ao mesmo tempo que tenta retirar um beijo, trinca-o. Ela devora-o todo o doce que se estende no corpo. Gonçalo percebe que ela vai deixá-lo perplexo. Graciete avança sem limites, sentir o gosto de algo que tanto ansiava de forma diferente fá-la avançar. Suga do membro viril todo o resto de doce que restava.
Incontrolável ele se manifesta, mas deseja mais.
Invertem as posições, o corpo nu de Gonçalo é como uma pena leve pousada sobre ela que aquece e incendeia a chama do seu ser. Ele afugenta-a com beijos, ao longo do seu corpo, contornando os seus seios deslizando até à barriga. No fim, olha-a, sobe todo o seu corpo para cima e beija-a loucamente.
Dá-se as junções dos seus órgãos sexuais que se contemplam num só, cheios de potência amorosa.
O prazer do esforço torna-os alucinados esquecendo o mundo.
A cada balanço de pulsação, Graciete pronuncia um gemido que o deixa soberano.
Agarram-se fortemente no corpo um do outro como imploração de que aquele momento não acabe.
A um ritmo alucinante, gotas de suor escorrem pelos seus corpos, ao mesmo tempo que gotas de chuva batem nas vidraças das janelas, embaciadas pela contemplação.
Fatigados, a paixão aconteceu.

Abraçados, adormecem esquecendo o que a ambos inquieta. Estão entregues ao sono provocado pelos ritmos da paixão. O silêncio reina na quietude da noite.
Graciete acorda, o dia ainda não nasceu, levanta-se e deixa para trás o lençol vazio e quente. Pega numa folha e na grafite pura. Desfila o corpo nu pela casa até chegar à casa de banho, liga a luz e fita-se ao espelho. Entra e fecha a porta. Sozinha com a sua nudez procura desabafar, deitar para fora o que não consegue dizer. Nada é mais puro que uma folha e a grafite. Com gestos grosseiros, rápidos desenha para si o que é seu. A sua intimidade é exposta, o seu sentimento triste é marcado pelos gestos loucos. Tudo deixou de ser segredo, o seu corpo, o seu sentimento, a grafite e a folha de papel. Tudo deixou de ser puro e virgem.
Regressa ao quarto, guarda a folha na mala e deita-se entregando-se ao seu inconsciente, ao sono.

Umas horas mais tarde dá conta que está sozinha, o seu amante já tinha ido embora. Apesar de tudo sorri e relembra um velho ditado “Tudo o que é bom acaba depressa” passou bons momentos com Gonçalo e é isso que vai recordar. Depois de pronta pensa fotografar alguma coisa, encostado à máquina tem um bilhete:
“Até um dia…e quando esse dia chegar almoçámos juntos. Beijo Gonçalo”.
Graciete sorri e sai de casa.

Sobre rodas, saboreia a velocidade do veículo. Relembra os últimos acontecimentos. Manuseia o volante como se sentisse nas suas mãos novamente a pele macia do corpo nu que envolveu com os seus braços. Nunca um momento foi tão intenso como aquele. Aproxima-se da portagem, tem que parar para pagar. Ao tirar a carteira da mala sai junto uma coisa que não lhe pertence. Uma folha branca riscada intensamente, mas tem de continuar não pode ficar ali parado.
Pára na estação de serviço e observa a folha. Um corpo nu bem torneado sobressai dos vigorosos riscos que o formam. Foi feito com agressividade, mas ao mesmo tempo com carinho. Um rosto fita-o com olhar triste, mas um débil sorriso abafa este olhar. Gonçalo sente a tristeza daquele olhar, mas os bons momentos que viveu com aquele sorriso e com aquele corpo será sempre guardado até um dia. Porque amou Graciete como se não houvesse amanhã como diria Renato Russo.Também ele sorri e continua o seu caminho até Castelo Branco.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amei!!!;-)
Beijinho

Ines disse...

Intensidade nao lhe falta!!!
Margarida:) Quem é que há 5 anos at´rás te imaginariacapaz de escrever estas coisas, sozinha ou acompanhada!!! :D
Parabens e beijinhos pas duas