- Graciete.
A sua voz perde força ao pronunciar o seu nome, não tem coragem de dizer mais nada, sente-se fraco e vulnerável. Ela vai pensar que só se aproveitou dela nestes dias, mas nem ele sabia que se ia apaixonar só sabia que desde que a conheceu não podia ficar longe dela.
Ela pressente que ele não está bem, o seu nome foi pronunciado de tal forma estranha que sentiu uma corrente eléctrica por todo o seu corpo. Foi um sussurro triste e penoso que não queria sentir, que não queria encarar, mas algo atormenta Gonçalo e tem que saber.
- Sim.-responde e vira-se para encara-lo, agora arrepende-se de olhar para o seu rosto, o seu estômago aperta-se num nó, não consegue controlar os tremores do seu corpo "eu vou perde-lo, eu vou perde-lo não o posso perder, ele é tudo para mim".
Graciete sabia que gostava de Gonçalo, mas agora que sabe que estava prestes a perde-lo, não suporta. Encara-o nos olhos e é engolida num turbilhão de sensações e chora, as lágrimas caem sem as conseguir controlar, não se importa, está a sofrer como ele sofre por a deixar e agora sabe que sentem o mesmo um pelo outro.
- Graciete, porque choras?
- Está tudo bem, só quero que saibas que independentemente do que estiver para acontecer eu nunca te vou esquecer. Fazes parte de mim, parece loucura, a verdade é que estou apaixonada por ti, Gonçalo.
Sente as poderosas mãos de Gonçalo a agarrar os seus braços e é puxada novamente para o seu peito. Ele a beija como se fosse a última vez. Graciete não nega este desejo e deixa que a língua dele toque na sua. O beijo é tão forte, tão intenso, repleto de uma paixão fogosa e doentia misturada com tristeza, mágoa e sobretudo de perda. Mas tudo é abafado pelo movimento das suas bocas. Ambos sentem o mesmo e não querem ficar por um beijo, as suas mentes e os seus corpos necessitam de muito mais, necessitam de despertar a paixão que existe neles.
Saem do barco e brincam como dois adolescentes, o céu fica cinzento, mas nem isso os afecta. Contam piadas, relembram episódios passados, falam das maiores vergonhas que passaram, vão ao “Macdonalds” e brincam com os bonecos que saem no “Happy Meal”, mas sobretudo o riso está sempre presente. Com toda a brincadeira quando vêm as horas, falta pouco para as sete. Graciete convida Gonçalo para jantar em casa. No caminho, passam por um supermercado e Graciete faz umas compras de última hora.
“Mmmhhh morangos e kiwi’s combinados são perfeitos” pensa Graciete. Mais à frente passa por uma prateleira sem prestar muita atenção, mas volta para trás novamente. “Chantilly, perfeito!” sorri com o seu pensamento.
- Isso é para a sobremesa? -ele aponta para a fruta e para o chantilly.
- Não gostas? Desculpa devia ter perguntado, eu…
- Eu adoro essa combinação! -ele sorri.
Em casa de Graciete não existe perguntas, não existe explicações, não existe despedidas, existe apenas o momento que começa a ser desfrutado.
Ao longo do jantar a conversa continua com temas que os fazem rir ainda mais.
- Vamos para a sobremesa?
- Desde o inicio do jantar que estou ansioso pela sobremesa.
- Guloso.
- Tu também.
Fixam o olhar ainda sorrindo e sem mais palavras não adiam o inevitável, aproximam-se e beijam-se. Um calor sobre os dois apodera-se, tocam-se suavemente descobrindo num passeio anatómico os contornos do corpo, conhecem-se lentamente, sem pressas.
Aos beijos deixam a cozinha e dirigem-se para o quarto. Peças de roupa caem pelo chão aumentando a intensidade do momento. O desejo de ser um só, a vontade de não se separarem torna aquele ambiente harmonioso.
Graciete empurra Gonçalo para cima da cama, e mostra-se na sua total pureza. Deitado, ele repara uma vez mais na beleza dela. Ela coloca-se por cima dele, a sensibilidade fica patente, beija-o docemente, passa as mãos fogosamente pelo seu peito e sente a sua forma escultórica, enquanto Gonçalo com as suas mãos suaves sente a sua pele delicada, tal como a seda.
Ele tapa os olhos dela.
- Confias em mim?
- Sim, mas…
- Então não destapes, por favor confia em mim. Volto já.
Minutos depois ouve os passos de Gonçalo, ele senta-se a seu lado, mas não a toca em vez disso ouve um barulho rouco, para depois sentir algo frio e cremoso no seu pescoço a descer pelos seus seios, prolongando-se até ao seu umbigo e termina na parte mais sensível do seu corpo, sente um arrepio. Não tem reacção, só desfruta o momento querendo saber o que vem a seguir.
Graciete não consegue responder a sua boca é preenchida por algo duro e suculento que vai e vem sem ela poder controlar. Sorri, não perde mais tempo, assim que a sua boca é preenchida novamente trinca, trinca com tal intensidade que o sumo do morango escorre pelos cantos da sua boca.
Sente o cheiro da sobremesa espalhada no seu tronco até ao início das pernas. Ela é a sobremesa.
Gonçalo beija-a no pescoço e trinca a sua pele ao mesmo tempo que mastiga a fruta lentamente. A sua língua fica mais agitada enquanto percorre o ponto de prazer de Graciete. Ela quer mais, e ele sabe do prazer que ela está a ter, mas mesmo assim ele continua a massacrá-la.
Graciete não aguenta mais, atinge o seu limite, revira o olhar e entrega-se ao que sente deixando-a fora de si.
Tira a venda, olha-o com satisfação, pega na taça dos morangos e kiwi's, retira uns tantos e esmága-os no peito dele. Tudo se desfaz em sumo, pega na lata do chantilly e de igual modo faz o mesmo processo.
Coloca um morango na sua boca e eleva até à dele. Ele com os seus lábios prende-o na sua ao mesmo tempo que tenta retirar um beijo, trinca-o. Ela devora-o todo o doce que se estende no corpo. Gonçalo percebe que ela vai deixá-lo perplexo. Graciete avança sem limites, sentir o gosto de algo que tanto ansiava de forma diferente fá-la avançar. Suga do membro viril todo o resto de doce que restava.
Incontrolável ele se manifesta, mas deseja mais.
Invertem as posições, o corpo nu de Gonçalo é como uma pena leve pousada sobre ela que aquece e incendeia a chama do seu ser. Ele afugenta-a com beijos, ao longo do seu corpo, contornando os seus seios deslizando até à barriga. No fim, olha-a, sobe todo o seu corpo para cima e beija-a loucamente.
Dá-se as junções dos seus órgãos sexuais que se contemplam num só, cheios de potência amorosa.
O prazer do esforço torna-os alucinados esquecendo o mundo.
A cada balanço de pulsação, Graciete pronuncia um gemido que o deixa soberano.
Agarram-se fortemente no corpo um do outro como imploração de que aquele momento não acabe.
A um ritmo alucinante, gotas de suor escorrem pelos seus corpos, ao mesmo tempo que gotas de chuva batem nas vidraças das janelas, embaciadas pela contemplação.
Fatigados, a paixão aconteceu.
Abraçados, adormecem esquecendo o que a ambos inquieta. Estão entregues ao sono provocado pelos ritmos da paixão. O silêncio reina na quietude da noite.
Graciete acorda, o dia ainda não nasceu, levanta-se e deixa para trás o lençol vazio e quente. Pega numa folha e na grafite pura. Desfila o corpo nu pela casa até chegar à casa de banho, liga a luz e fita-se ao espelho. Entra e fecha a porta. Sozinha com a sua nudez procura desabafar, deitar para fora o que não consegue dizer. Nada é mais puro que uma folha e a grafite. Com gestos grosseiros, rápidos desenha para si o que é seu. A sua intimidade é exposta, o seu sentimento triste é marcado pelos gestos loucos. Tudo deixou de ser segredo, o seu corpo, o seu sentimento, a grafite e a folha de papel. Tudo deixou de ser puro e virgem.
Regressa ao quarto, guarda a folha na mala e deita-se entregando-se ao seu inconsciente, ao sono.
Umas horas mais tarde dá conta que está sozinha, o seu amante já tinha ido embora. Apesar de tudo sorri e relembra um velho ditado “Tudo o que é bom acaba depressa” passou bons momentos com Gonçalo e é isso que vai recordar. Depois de pronta pensa fotografar alguma coisa, encostado à máquina tem um bilhete:
“Até um dia…e quando esse dia chegar almoçámos juntos. Beijo Gonçalo”.
Graciete sorri e sai de casa.
Sobre rodas, saboreia a velocidade do veículo. Relembra os últimos acontecimentos. Manuseia o volante como se sentisse nas suas mãos novamente a pele macia do corpo nu que envolveu com os seus braços. Nunca um momento foi tão intenso como aquele. Aproxima-se da portagem, tem que parar para pagar. Ao tirar a carteira da mala sai junto uma coisa que não lhe pertence. Uma folha branca riscada intensamente, mas tem de continuar não pode ficar ali parado.
Pára na estação de serviço e observa a folha. Um corpo nu bem torneado sobressai dos vigorosos riscos que o formam. Foi feito com agressividade, mas ao mesmo tempo com carinho. Um rosto fita-o com olhar triste, mas um débil sorriso abafa este olhar. Gonçalo sente a tristeza daquele olhar, mas os bons momentos que viveu com aquele sorriso e com aquele corpo será sempre guardado até um dia. Porque amou Graciete como se não houvesse amanhã como diria Renato Russo.Também ele sorri e continua o seu caminho até Castelo Branco.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Capitulo 3
De cocktail na mão Graciete e Gonçalo encontram-se na varanda do bar do hotel, no último andar do edifício, a chuva, essa tinha estagnado.
- Bem… agora já me podes dizer quem és tu?
- Sim. -sorri Gonçalo. - Empresário no ramo da hotelaria.
- És o dono deste hotel?!
- Não, mas tenho parceria com o pessoal daqui.
- Muito me contas…
Gonçalo repara que o olhar de Graciete entristeceu depois de lhe ter dito o que faz, o desviar do olhar sobre a cidade iluminada pela noite espalhou o pensamento dela. Ele toca-lhe no seu rosto:
- Ei, tudo bem?
- Sim. -sorri Graciete. - Vamos jantar.
O jantar baseia-se em pratos requintados acompanhados de champanhe.
- Então esta é que é a famosa comida divina, hein? -sorri.
- Pelos vistos sim! -Gonçalo sorri em tom de brincadeira.
- Sabes o que aprecio nestes pratos de comida? -questiona Graciete.
- Ah, então tu aprecias esta comida divina? Mas diz lá. -
Gonçalo estava a divertir-se com a cara que Graciete estava a fazer, era notório que não era do género de comida que ela estava habituada, mas Gonçalo percebeu que ela tinha uma pose de etiqueta e sabia essencialmente usar os talheres com requinte. As suas mãos manuseavam gentilmente a comida. A sua pele era muito branca e o vestido apesar de branco, ficava-lhe bem, dava-lhe um certo ar angelical.
- É a sua apresentação, a estética como vem os alimentos. Porque de resto isto não alimenta ninguém.
Gonçalo ri-se, despertando-se dos seus pensamentos.
- Sabes que isto é uma forma de…
- De fazer uma pessoa gastar dinheiro e ter de mandar vir outro prato porque com este não enche a barriga.
- Mas tu não vês que as pessoas que vem comer a estes sítios pertencem à classe elite. Normalmente já vêm jantadas de casa, aqui é só para causar aparência.
- E tu, também és assim? -Graciete olhou séria para ele.
- Confesso que já tive que me alimentar antes de ir a um restaurante deste calibre.
- Gente fina é outra coisa! -diz-lhe Graciete de nariz empinado.
- Então é por isso que só gostas da estética?
- Sim, é preciso ter criatividade.
- Concordo, mas nota-se que já frequentaste Restaurantes finos.
- Sim é verdade, viver em França tem destas coisas.
- Viveste em França?
- Sim, a minha família ficou toda lá, eu resolvi regressar, mas passar lá uma temporada foi muito bom, é uma cultura diferente e exala paixão, principalmente Paris!
- Paris ville de l’amour!
O jantar prossegue, olhares tímidos entre os dois se cruzam. Graciete nunca pensou um dia relacionar-se com alguém tão depressa, afinal ainda ontem conheceu o sujeito e hoje está sentada à sua frente.
Depois do jantar Gonçalo convida Graciete a ir até à pista de dança do hotel. Não muito à vontade aceita o convite. Num ambiente mexido, próprio de uma sala de dança, mal entram faz-se ouvir uma balada. Como um cavalheiro Gonçalo convida sua dama para dançar, Graciete receosa aceita. Os dois dançam agarrado um ao outro.
Com o rosto encostado ao ombro de Gonçalo, ela tenta organizar na sua cabeça todos os momentos repentinos que estavam a acontecer até ali. O que sente fá-la acreditar que tudo aquilo não é uma loucura.
A amenidade da música intensifica-se e com ela os gestos de Gonçalo e Graciete. A brandura rítmica move-os delicadamente, ela desvia o seu rosto para Gonçalo, este inclina-se e passa docemente o seu rosto sobre a sua face. A respiração fortemente calma sublinha-se, Graciete fecha os olhos deixa-se levar pela batia da música. Ele desliza seu nariz até ao dela, passa seus lábios próximos dos dela, mas não a beija. Ele pode sentir o forte alento de inspiração de Graciete, mas esta também resiste.
Os dois se afastam num pequeno espaço, olham-se famintamente, Gonçalo com sua mão acarinha a face de Graciete, esta de olhos fechados deixa-se embalar pelo seu gesto. Ela pega na sua mão e entrelaça na sua, volta abraçá-lo e continuam na ondulação da melodia que termina.
Gonçalo está a provocar em si um sentimento angustiante, sabe que a sua estadia pelo Porto está a acabar e não pode, nem quer envolver-se demais com Graciete. Terminada a música Graciete decide ir para casa, já se faz tarde e já não aguenta mais a pressão. Gonçalo faz questão de a levar a casa, desta vez no seu carro, o que deixa Graciete apoquentada. Na viagem apenas as indicações de Graciete para sua casa quebram no silêncio, a atmosfera calorosa que os dois criaram prevalecia num mau estar, onde cada um se dispersa nos seus pensamentos.
Chegam à porta da casa de Graciete, Gonçalo sai do carro e gentilmente abre a porta do lado dela.
- Estás entregue.
Sai do carro e se encosta, não responde, mil palavras lhe passa pela cabeça para responder, mas não consegue.
A pele de Gonçalo fica ainda mais pálida com o luar o seu cabelo negro realça o seu rosto, e os seus olhos são a única cor que dá vida ao momento. Estaria apaixonada? Estaria prestes a estragar o momento se abrisse seus lábios para lhe responder?
- Graciete? -ele a olha com curiosidade e preocupação.
- Estás bem?
- Ah? Sim estou.
- O quê que te preocupa?
Desta vez Graciete o olha com atenção alguma coisa está a preocupar Gonçalo, alguma coisa que lhe está a esconder. “Claro que ele tem segredos para ti sua tonta ele conhece-te á dois dias”.
- Nada, estou apenas cansada.
- Desculpa não era essa a minha intenção.
- Não digas isso, eu estou bem, gostei da tua companhia à muito que não saia acompanha com alguém tão… -pára de falar. “Tão quê o que hei-de eu dizer, bolas porquê que falas sempre sem pensar”
- Tão…? -pergunta Gonçalo a sorrir.
- Tão encantador, é isso encantador.
Ambos se desatam a rir, nenhum querendo ir embora.
- Bem, então adeus! -diz Graciete ao fim de algum tempo.
- Adeus! -responde Gonçalo ao mesmo tempo que se aproxima para se despedir com o tradicional beijo nas faces do rosto. Trocam o primeiro beijo, mas no segundo, num desleixo inevitável beijam-se na boca repentinamente.
- Desculpa! Isto não devia ter acontecido - culpa-se Gonçalo pelo acto.
- Não! Desculpa-me a mim, a culpa também foi minha.
Atrapalhados com a situação ficam sem jeito para dizerem seja o que for.
- Acho melhor ir embora.
- Não! Quer dizer, não nos vamos encontrar amanhã? -pergunta Graciete.
- Sim, talvez. Depois mando-te mensagem.
A noite termina confusa e ambos sentem um reboliço de emoções que precisam de esclarecer.
Acordar com a luz do sol, é das coisas que mais gosta pela manhã. Olha para o telemóvel, com esperança de ter uma mensagem mas apenas se depara com o Homer Simpson esfomeado a comer um donut. Esta imagem por mais cómica que fosse ao acordar não teve esse efeito.
- Seis da manhã! -dá um sorriso forçado afinal ainda faltava um bom bocado para se encontrar com Gonçalo. Mesmo não tendo muito sono torna a enroscar-se nos lençóis.
Acorda lentamente, julga que teve apenas trinta minutos de sono. Novamente, pega no telemóvel e como antes encara o Homer.
- Bom dia Homer! -salta da cama e corre em direcção á sala.
- Não pode ser, é uma da tarde. -confirma a hora no grande relógio da sala que nunca se atrasa.
Atarantada olha para o telemóvel sem nenhum aviso de novas mensagens. Gonçalo não disse nada, a esta hora ele já está levantado, tem a certeza disso, mas porquê que não lhe disse nada ele sabia que ela ia estar à espera das suas palavras, ou será que não?
“Será que lhe aconteceu alguma coisa? Será que ele está bem? Deve estar apenas numa reunião importante que acabou por se prolongar, ele é um homem de negócios está ocupado” -pensa enquanto caminha de um lado para o outro na sala.
-Vou ligar-lhe!
O nome de Gonçalo aparece no visor com um donut ao lado, apesar de estar nervosa acha este pormenor engraçado.
- Não posso ligar-lhe, ele disse que me mandava uma mensagem não sou nenhuma adolescente, controla-te Graciete, és adulta.
Por outro lado fica preocupada, no dia anterior quando se despediram ela fez de propósito para tocar no canto dos lábios de Gonçalo, não aguentava permanecer longe daquela boca carnuda, tinha que lhe tocar nem que fosse de raspão. O resultado foi muito maior do que esperava, tinha acertado bem no centro da boca que tanto desejava. E agora está inquieta, pois tinha notado uma mudança súbita no rosto dele, uma timidez, mas ao mesmo tempo uma tristeza inquietante. Nesse momento, pareceu-lhe que foi apenas um constrangimento, mas agora tinha medo que Gonçalo não tivesse gostado do beijo, que não gostava dela da mesma forma que ela gostava dele. Tal pensamento entristeceu-a.
Tomou um banho, comeu uma refeição rápida e sentou-se no sofá a assistir tv. Enquanto muda de canal sem qualquer interesse pára no “Cartoon” e começa a ver o Scooby-doo. Ri do lado cómico dos desenhos animados e esquece-se por um momento de Gonçalo.
O toque da mensagem quebra o seu riso, sem pensar duas vezes agarra no telemóvel. É de Gonçalo.
Mesmo ao lado da ponte D. Luís, Gonçalo a espera com um sorriso.
- Olá! -diz Graciete.
Gonçalo agarra na mão dela e começa a correr.
- O que estás a fazer? Porquê que estamos a correr?
- Estamos atrasados!
- Estamos atrasados? Para quê?
- Tu já vês. Não pares de correr Graciete.
E não param de correr pela ponte, contornam os turistas, embatem em algumas pessoas que não conseguem desviar-se a tempo, pedindo desculpa sem olhar para trás. Gonçalo corre em direcção a um barco rabelo que está a partir.
- Esperem, esperem, temos os bilhetes.
O homem não retira a prancha de passagem deixando que os jovens ofegantes entrem a bordo.
- Chegou a tempo, mais uns segundos e não entravam.
- Os bilhetes! -responde Gonçalo.
Dirigem-se para a proa do barco.
- Com que então um passeio de barco rabelo!
- Sim, desde que cheguei ao Porto estou cheio de vontade de andar num barco destes, mas não tinha tempo, nem companhia!
- Com que então sem tempo e sem companhia!
- Mas como tenho companhia, só faltava arranjar tempo por isso despachei o trabalho todo da parte da manhã para poder passear de tarde e aproveitar a companhia sem preocupações.
- Por isso que demoras-te tanto para mandar-me uma mensagem.
- Pensas-te que não te ia dizer nada?
Graciete fica vermelha, realmente pensou que ele não lhe diria mais nada depois do que tinha acontecido, mas por outro lado tinha uma réstia de esperança.
- Sim pensei! Eu pensava que tinhas ficado magoado comigo pelo….
- Eu era incapaz de ficar chateado contigo, Graciete. -passa a sua mão pelo rosto de Graciete, ela fecha os olhos pelo toque.
- Então foi por este motivo que me pediste para trazer a máquina.
- Pensei que gostasses de fotografar as margens do Douro pelo menos até à barragem.
- E pensas-te bem, mousieur Gonçalo!
- Mui bien, chérie!
Ambos riem, falar francês não é propriamente uma piada, mas estão felizes porque ambos estão junto da pessoa que mais querem. O passeio é lento e confortável, na ida Graciete fotografa as paisagens e Gonçalo, falam de tudo um pouco menos do trabalho. Na vinda, sentam-se no banco lateral do barco. Graciete coloca os pés em cima do banco e agarra-se ás suas pernas.
- Assim estás desconfortável, chega aqui.
Lentamente, Gonçalo a encosta no seu peito e dá-lhe um beijo sobre os cabelos.
- Estás melhor? -pergunta Gonçalo.
- Agora muito melhor.
Gonçalo abraça-a, dentro de algumas horas iria deixá-la, dentro de algumas horas ia ter que lhe dizer adeus sem saber quando se voltariam a encontrar novamente. Não queria deixá-la, estava apaixonado por ela, não sabia como tal tinha acontecido, nunca foi homem de se apaixonar facilmente e numa curta visita ao Porto a tinha encontrado. Ela estava tão linda, com o cabelo claro solto sobre as suas costas, os seus olhos verdes distraídos na decoração do restaurante, a sua postura fina e descontraída. A máquina fotográfica foi a sua salvação foi assim que ela lhe tinha prestado atenção. Quando ela o encarou, sentiu-se importante não devido ao seu estatuto e ao seu poder económico, mas sentiu-se homem. Ela mexeu com ele no primeiro olhar e soube nesse instante que a queria conhecer, não sabia como, mas tinha que saber o seu nome. Tudo ficou mais fácil depois com a troca de olhares, mas nunca pensou que fosse tocar na sua mão enquanto apanhava o cartão dela e muito menos de olhar para a sua coxa que a saia deixava à vista. Atreveu-se a falar com ela e a sair com ela e a tocar na sua mão. E ontem tinham dado um beijo suave, mas para ele foi muito mais que isso, lembrou-o o quanto ela lhe era importante. Ele sabia que ela era especial e que a queria para ele, mas tinha medo de a magoar e agora ali, o seu frágil corpo junto ao seu peito lembra-o que tudo vai acabar.
“Tudo o que é bom acaba depressa” -pensa.
Gonçalo está apaixonado por Graciete.
- Bem… agora já me podes dizer quem és tu?
- Sim. -sorri Gonçalo. - Empresário no ramo da hotelaria.
- És o dono deste hotel?!
- Não, mas tenho parceria com o pessoal daqui.
- Muito me contas…
Gonçalo repara que o olhar de Graciete entristeceu depois de lhe ter dito o que faz, o desviar do olhar sobre a cidade iluminada pela noite espalhou o pensamento dela. Ele toca-lhe no seu rosto:
- Ei, tudo bem?
- Sim. -sorri Graciete. - Vamos jantar.
O jantar baseia-se em pratos requintados acompanhados de champanhe.
- Então esta é que é a famosa comida divina, hein? -sorri.
- Pelos vistos sim! -Gonçalo sorri em tom de brincadeira.
- Sabes o que aprecio nestes pratos de comida? -questiona Graciete.
- Ah, então tu aprecias esta comida divina? Mas diz lá. -
Gonçalo estava a divertir-se com a cara que Graciete estava a fazer, era notório que não era do género de comida que ela estava habituada, mas Gonçalo percebeu que ela tinha uma pose de etiqueta e sabia essencialmente usar os talheres com requinte. As suas mãos manuseavam gentilmente a comida. A sua pele era muito branca e o vestido apesar de branco, ficava-lhe bem, dava-lhe um certo ar angelical.
- É a sua apresentação, a estética como vem os alimentos. Porque de resto isto não alimenta ninguém.
Gonçalo ri-se, despertando-se dos seus pensamentos.
- Sabes que isto é uma forma de…
- De fazer uma pessoa gastar dinheiro e ter de mandar vir outro prato porque com este não enche a barriga.
- Mas tu não vês que as pessoas que vem comer a estes sítios pertencem à classe elite. Normalmente já vêm jantadas de casa, aqui é só para causar aparência.
- E tu, também és assim? -Graciete olhou séria para ele.
- Confesso que já tive que me alimentar antes de ir a um restaurante deste calibre.
- Gente fina é outra coisa! -diz-lhe Graciete de nariz empinado.
- Então é por isso que só gostas da estética?
- Sim, é preciso ter criatividade.
- Concordo, mas nota-se que já frequentaste Restaurantes finos.
- Sim é verdade, viver em França tem destas coisas.
- Viveste em França?
- Sim, a minha família ficou toda lá, eu resolvi regressar, mas passar lá uma temporada foi muito bom, é uma cultura diferente e exala paixão, principalmente Paris!
- Paris ville de l’amour!
O jantar prossegue, olhares tímidos entre os dois se cruzam. Graciete nunca pensou um dia relacionar-se com alguém tão depressa, afinal ainda ontem conheceu o sujeito e hoje está sentada à sua frente.
Depois do jantar Gonçalo convida Graciete a ir até à pista de dança do hotel. Não muito à vontade aceita o convite. Num ambiente mexido, próprio de uma sala de dança, mal entram faz-se ouvir uma balada. Como um cavalheiro Gonçalo convida sua dama para dançar, Graciete receosa aceita. Os dois dançam agarrado um ao outro.
Com o rosto encostado ao ombro de Gonçalo, ela tenta organizar na sua cabeça todos os momentos repentinos que estavam a acontecer até ali. O que sente fá-la acreditar que tudo aquilo não é uma loucura.
A amenidade da música intensifica-se e com ela os gestos de Gonçalo e Graciete. A brandura rítmica move-os delicadamente, ela desvia o seu rosto para Gonçalo, este inclina-se e passa docemente o seu rosto sobre a sua face. A respiração fortemente calma sublinha-se, Graciete fecha os olhos deixa-se levar pela batia da música. Ele desliza seu nariz até ao dela, passa seus lábios próximos dos dela, mas não a beija. Ele pode sentir o forte alento de inspiração de Graciete, mas esta também resiste.
Os dois se afastam num pequeno espaço, olham-se famintamente, Gonçalo com sua mão acarinha a face de Graciete, esta de olhos fechados deixa-se embalar pelo seu gesto. Ela pega na sua mão e entrelaça na sua, volta abraçá-lo e continuam na ondulação da melodia que termina.
Gonçalo está a provocar em si um sentimento angustiante, sabe que a sua estadia pelo Porto está a acabar e não pode, nem quer envolver-se demais com Graciete. Terminada a música Graciete decide ir para casa, já se faz tarde e já não aguenta mais a pressão. Gonçalo faz questão de a levar a casa, desta vez no seu carro, o que deixa Graciete apoquentada. Na viagem apenas as indicações de Graciete para sua casa quebram no silêncio, a atmosfera calorosa que os dois criaram prevalecia num mau estar, onde cada um se dispersa nos seus pensamentos.
Chegam à porta da casa de Graciete, Gonçalo sai do carro e gentilmente abre a porta do lado dela.
- Estás entregue.
Sai do carro e se encosta, não responde, mil palavras lhe passa pela cabeça para responder, mas não consegue.
A pele de Gonçalo fica ainda mais pálida com o luar o seu cabelo negro realça o seu rosto, e os seus olhos são a única cor que dá vida ao momento. Estaria apaixonada? Estaria prestes a estragar o momento se abrisse seus lábios para lhe responder?
- Graciete? -ele a olha com curiosidade e preocupação.
- Estás bem?
- Ah? Sim estou.
- O quê que te preocupa?
Desta vez Graciete o olha com atenção alguma coisa está a preocupar Gonçalo, alguma coisa que lhe está a esconder. “Claro que ele tem segredos para ti sua tonta ele conhece-te á dois dias”.
- Nada, estou apenas cansada.
- Desculpa não era essa a minha intenção.
- Não digas isso, eu estou bem, gostei da tua companhia à muito que não saia acompanha com alguém tão… -pára de falar. “Tão quê o que hei-de eu dizer, bolas porquê que falas sempre sem pensar”
- Tão…? -pergunta Gonçalo a sorrir.
- Tão encantador, é isso encantador.
Ambos se desatam a rir, nenhum querendo ir embora.
- Bem, então adeus! -diz Graciete ao fim de algum tempo.
- Adeus! -responde Gonçalo ao mesmo tempo que se aproxima para se despedir com o tradicional beijo nas faces do rosto. Trocam o primeiro beijo, mas no segundo, num desleixo inevitável beijam-se na boca repentinamente.
- Desculpa! Isto não devia ter acontecido - culpa-se Gonçalo pelo acto.
- Não! Desculpa-me a mim, a culpa também foi minha.
Atrapalhados com a situação ficam sem jeito para dizerem seja o que for.
- Acho melhor ir embora.
- Não! Quer dizer, não nos vamos encontrar amanhã? -pergunta Graciete.
- Sim, talvez. Depois mando-te mensagem.
A noite termina confusa e ambos sentem um reboliço de emoções que precisam de esclarecer.
Acordar com a luz do sol, é das coisas que mais gosta pela manhã. Olha para o telemóvel, com esperança de ter uma mensagem mas apenas se depara com o Homer Simpson esfomeado a comer um donut. Esta imagem por mais cómica que fosse ao acordar não teve esse efeito.
- Seis da manhã! -dá um sorriso forçado afinal ainda faltava um bom bocado para se encontrar com Gonçalo. Mesmo não tendo muito sono torna a enroscar-se nos lençóis.
Acorda lentamente, julga que teve apenas trinta minutos de sono. Novamente, pega no telemóvel e como antes encara o Homer.
- Bom dia Homer! -salta da cama e corre em direcção á sala.
- Não pode ser, é uma da tarde. -confirma a hora no grande relógio da sala que nunca se atrasa.
Atarantada olha para o telemóvel sem nenhum aviso de novas mensagens. Gonçalo não disse nada, a esta hora ele já está levantado, tem a certeza disso, mas porquê que não lhe disse nada ele sabia que ela ia estar à espera das suas palavras, ou será que não?
“Será que lhe aconteceu alguma coisa? Será que ele está bem? Deve estar apenas numa reunião importante que acabou por se prolongar, ele é um homem de negócios está ocupado” -pensa enquanto caminha de um lado para o outro na sala.
-Vou ligar-lhe!
O nome de Gonçalo aparece no visor com um donut ao lado, apesar de estar nervosa acha este pormenor engraçado.
- Não posso ligar-lhe, ele disse que me mandava uma mensagem não sou nenhuma adolescente, controla-te Graciete, és adulta.
Por outro lado fica preocupada, no dia anterior quando se despediram ela fez de propósito para tocar no canto dos lábios de Gonçalo, não aguentava permanecer longe daquela boca carnuda, tinha que lhe tocar nem que fosse de raspão. O resultado foi muito maior do que esperava, tinha acertado bem no centro da boca que tanto desejava. E agora está inquieta, pois tinha notado uma mudança súbita no rosto dele, uma timidez, mas ao mesmo tempo uma tristeza inquietante. Nesse momento, pareceu-lhe que foi apenas um constrangimento, mas agora tinha medo que Gonçalo não tivesse gostado do beijo, que não gostava dela da mesma forma que ela gostava dele. Tal pensamento entristeceu-a.
Tomou um banho, comeu uma refeição rápida e sentou-se no sofá a assistir tv. Enquanto muda de canal sem qualquer interesse pára no “Cartoon” e começa a ver o Scooby-doo. Ri do lado cómico dos desenhos animados e esquece-se por um momento de Gonçalo.
O toque da mensagem quebra o seu riso, sem pensar duas vezes agarra no telemóvel. É de Gonçalo.
Mesmo ao lado da ponte D. Luís, Gonçalo a espera com um sorriso.
- Olá! -diz Graciete.
Gonçalo agarra na mão dela e começa a correr.
- O que estás a fazer? Porquê que estamos a correr?
- Estamos atrasados!
- Estamos atrasados? Para quê?
- Tu já vês. Não pares de correr Graciete.
E não param de correr pela ponte, contornam os turistas, embatem em algumas pessoas que não conseguem desviar-se a tempo, pedindo desculpa sem olhar para trás. Gonçalo corre em direcção a um barco rabelo que está a partir.
- Esperem, esperem, temos os bilhetes.
O homem não retira a prancha de passagem deixando que os jovens ofegantes entrem a bordo.
- Chegou a tempo, mais uns segundos e não entravam.
- Os bilhetes! -responde Gonçalo.
Dirigem-se para a proa do barco.
- Com que então um passeio de barco rabelo!
- Sim, desde que cheguei ao Porto estou cheio de vontade de andar num barco destes, mas não tinha tempo, nem companhia!
- Com que então sem tempo e sem companhia!
- Mas como tenho companhia, só faltava arranjar tempo por isso despachei o trabalho todo da parte da manhã para poder passear de tarde e aproveitar a companhia sem preocupações.
- Por isso que demoras-te tanto para mandar-me uma mensagem.
- Pensas-te que não te ia dizer nada?
Graciete fica vermelha, realmente pensou que ele não lhe diria mais nada depois do que tinha acontecido, mas por outro lado tinha uma réstia de esperança.
- Sim pensei! Eu pensava que tinhas ficado magoado comigo pelo….
- Eu era incapaz de ficar chateado contigo, Graciete. -passa a sua mão pelo rosto de Graciete, ela fecha os olhos pelo toque.
- Então foi por este motivo que me pediste para trazer a máquina.
- Pensei que gostasses de fotografar as margens do Douro pelo menos até à barragem.
- E pensas-te bem, mousieur Gonçalo!
- Mui bien, chérie!
Ambos riem, falar francês não é propriamente uma piada, mas estão felizes porque ambos estão junto da pessoa que mais querem. O passeio é lento e confortável, na ida Graciete fotografa as paisagens e Gonçalo, falam de tudo um pouco menos do trabalho. Na vinda, sentam-se no banco lateral do barco. Graciete coloca os pés em cima do banco e agarra-se ás suas pernas.
- Assim estás desconfortável, chega aqui.
Lentamente, Gonçalo a encosta no seu peito e dá-lhe um beijo sobre os cabelos.
- Estás melhor? -pergunta Gonçalo.
- Agora muito melhor.
Gonçalo abraça-a, dentro de algumas horas iria deixá-la, dentro de algumas horas ia ter que lhe dizer adeus sem saber quando se voltariam a encontrar novamente. Não queria deixá-la, estava apaixonado por ela, não sabia como tal tinha acontecido, nunca foi homem de se apaixonar facilmente e numa curta visita ao Porto a tinha encontrado. Ela estava tão linda, com o cabelo claro solto sobre as suas costas, os seus olhos verdes distraídos na decoração do restaurante, a sua postura fina e descontraída. A máquina fotográfica foi a sua salvação foi assim que ela lhe tinha prestado atenção. Quando ela o encarou, sentiu-se importante não devido ao seu estatuto e ao seu poder económico, mas sentiu-se homem. Ela mexeu com ele no primeiro olhar e soube nesse instante que a queria conhecer, não sabia como, mas tinha que saber o seu nome. Tudo ficou mais fácil depois com a troca de olhares, mas nunca pensou que fosse tocar na sua mão enquanto apanhava o cartão dela e muito menos de olhar para a sua coxa que a saia deixava à vista. Atreveu-se a falar com ela e a sair com ela e a tocar na sua mão. E ontem tinham dado um beijo suave, mas para ele foi muito mais que isso, lembrou-o o quanto ela lhe era importante. Ele sabia que ela era especial e que a queria para ele, mas tinha medo de a magoar e agora ali, o seu frágil corpo junto ao seu peito lembra-o que tudo vai acabar.
“Tudo o que é bom acaba depressa” -pensa.
Gonçalo está apaixonado por Graciete.
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